Olabi no INT: Inovação e Tecnologia para as pessoas “comuns”
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Por Eduardo Lopes*
“Não sabia que era possível fazer isso” ou “Não imaginava que era tão fácil assim” são frases que sempre ouvimos em nossas andanças e oficinas nesse mundo maker por aí afora.
As pessoas “comuns”, como eu e você (entre aspas para ressaltar que todos somos makers e comuns, mas isso é assunto para outro post), estamos acostumados a ajoelhar e dar graças ao criador, pelo simples fato de uma grande empresa ter pensado e fabricado um produto, para depois colocá-lo em uma prateleira, já pronto para o nosso consumo.
Se por um lado toda essa facilidade é mesmo digna de comemoração, como uma grande conquista (de parte) da humanidade e do seu desenvolvimento tecnológico, por outro levamos de brinde uma bruta alienação.
Não sabemos mais como tudo o que consumimos é feito.
Não falo apenas dos nossos gadgets cada vez mais sofisticados, mas a maior parte de nossas roupas ou da nossa comida são provenientes de grandes (e fechadas) indústrias.
Há pouquíssimo tempo, nossos pais costuravam e consertavam as próprias roupas, preparavam as suas refeições e certamente sabiam que uma linguiça é proveniente de um porco, e não da prateleira supermercado, como pensa(va) meu filho de oito anos.
Essa alienação promove, entre outros tantos males, uma desconexão entre as nossas reais necessidades materiais e o impacto que a produção industrial causa em nosso ambiente, especialmente quando imersos em um universo onde o consumismo é a regra.
Toda essa introdução é para saudar uma iniciativa do INT — O Instituto Nacional de Tecnologia — que às vésperas de completar 95 anos, abriu as suas portas para a cidade, com o intuito de levar para dentro do Instituto as discussões e práticas em curso nas comunidades ligadas ao universo da apropriação de novas tecnologias.
Normalmente focado em aplicação de tecnologia de ponta à serviço da inovação para a grande indústria, o INT decidiu chamar o Olabi para realizar um ciclo de oficinas sobre os novos espaços criativos e as redes de inovação. O resultado foi um mês de ocupação no hall de entrada do Instituto, bem centro do Rio, onde rolou um pouco de tudo: robótica, costura high tech, biohacking, design e eletrônica aplicada, tudo voltado para o público geral e para os colaboradores do próprio INT.
Mais do que os equipamentos de ponta existentes ali, o que aconteceu de mais interessante foi a mistura de saberes e realidades diferentes: A PhD em Metalurgia costurando com linha condutiva um tapete sensorial para bebês, feito com uma mistura de artesanato tradicional e eletrônica, junto com as jovens mães da ONG Providenciando a Favor da Vida, da comunidade da Providência, em parceria com o pessoal do Movimento Down.
Teve também o designer com pós-graduação no exterior aprendendo eletrônica aberta com Arduino e fazendo um pequeno “robô” dançar — na verdade uma tensoestrutura de madeira cortada a laser e unida com elásticos -, junto com crianças de dez anos de idade — em uma atividade que lotou o espaço, comandada pelo super maker argentino e nosso parceiro Fernando Daguano.
Como sempre gostamos de fazer, incluímos as crianças na roda. Extraímos juntos o DNA de frutas e da saliva, hackeamos plantas carnívoras e adaptamos para a nossa realidade o projeto de um carregador de celular movido a energia eólica, postado no Instructables por um maker indiano. A hélice do nosso carregador, por exemplo, foi feita utilizando plástico reciclado pelas máquinas do Precious Plastic, no projeto adaptado no Rio pela Matéria Brasil, para a WWF e utilizado pela comunidade de catadores Anfitriões do Cosme Velho.
Se há uma coisa que aprendemos nesses anos todos, imersos na realidade desses espaços de fazer, é que o que importa são as pessoas, e não as máquinas.
É claro que poder ver de perto as super impressoras 3D industriais do INT é uma experiência incrível — e quem participou da oficina de modelagem e impressão que rolou no ciclo, fez uma excursão por todo o laboratório — mas como toda máquina, elas são apenas ferramentas, que devem estar a nosso serviço, e não o contrário.
Saímos empolgados dessa experiência, com muito mais perguntas do que respostas (o que é sempre bom, apesar do senso comum dizer o contrário…), curiosos para saber o quê essa conexão entre o público geral, os saberes específicos e a infraestrutura de ponta vão trazer de novo, além da troca de aprendizados, experiências e de ideias que já rolou.
O INT deu um exemplo de como é possível discutir inovação dentro de uma instituição tradicional, abrindo as suas portas e as cabeças que ali estão. Entenderam que, nos dias de hoje, o processo de construção da inovação pode começar ali numa esquina da Providência. Eles entenderam que o diálogo entre os seus pesquisadores ultra qualificados e os estudantes, empreendedores, artistas, enfim, o cidadão comum podem produzir bons resultados para o desenvolvimento social do país.
PS: fiquei com a missão de fazer este post e contar um pouco do projeto, mas nada dele seria possível sem a Rebeca Duque Estrada, que comandou isso com maestria e garantiu que cada atividade ficasse incrível.
*Eduardo Lopes é arquiteto, doutorando na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo na Universidade de São Paulo e diretor de operações do Olabi Makerspace.